quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Conheça porque a divida publica do Brasil não é um bicho de sete cabeças e facil de compreende-la.

Botão compacto

Gráfico abaixo mostra evolução da dívida pública brasileira, dívida bruta, desde 2001:


Vemos que houve uma tendência consistente de queda até 2008, queda gerada pelos superavits fiscais primários acumulados no período. Em 2008 esta tendência se reverteu.

De 2008 até meados de 2010 a dívida cresceu bastante, puxada pela desaceleração do PIB e pela forte expansão da carteira de empréstimos do BNDES, expansão esta que é explicada no gráfico abaixo que mostra a expansão dos créditos direcionados no sistema:



Esta expansão da carteira do BNDES demandou injeções maiores de capital no BNDES via empréstimos de longo prazo por parte do Tesouro, o que forçou o Tesouro Nacional a emitir mais dívida para financiar tais injeções de capital, elevando assim a dívida bruta do governo.

Além disto a forte acumulação de reservas cambiais exige que BC esterilize o volume de R$ gerados em tais compras, o que acaba levando a um aumento da dívida pública para financiar tais aquisições de divisas.

Nossas reservas internacionais são financiadas através de dívida emitida pelo governo e não por superavits fiscais. Isto também eleva o endividamento geral do governo. Veja gráfico do crescimento de nossas reservas:



Veja que desde 2006 nossas reservas subiram bastante, o que exigiu emissão de dívida pública para financiar tais compras de dólares. É como se você fosse ao banco tomar dinheiro emprestado para comprar dólares e guardá-los em casa.

Notamos também que mesmo em momentos de crise a queda no volume de nossas reservas é pequena ( em vermelho acima) . Logo não é realista assumir que poderemos vender tais reservas ou reduzi-las de forma significativa a médio prazo.

Teremos que manter tais reservas ou até mesmo subi-las ainda mais se desejarmos evitar uma super valorização do Real. Além disto o BC não gosta de vendê-las: prefere vender dólares usando derivativos e não através de venda a vista nos mercados. Vá entender a razão.

Porém, desde 2010 a dívida retomou tendência de queda apesar do crescimento da carteira de crédito do BNDES e do aumento das reservas. Isto ocorreu pela forte aceleração do crescimento do PIB, que reduziu a razão Dívida / PIB, ao subir o denominador mais rapidamente.

Com a desaceleração da economia que teremos nos próximos meses, que deve ser bastante forte segundo expectativa do BC, tal tendência de queda nesta relação deve ser interrompida, porém não espero um crescimento explosivo da mesma.

Enfim, apesar das reservas e do BNDES, o endividamento público e privado ainda não são o nosso calcanhar de Aquiles.

A inflação alta, baixa taxa de investimento e de poupança e baixa produtividade são nossos problemas reais.

Se :

> reduzirmos inflação , precisaremos de juros menores que irão reduzir taxa de crescimento da dívida

> aumentarmos taxa de investimento, poderemos crescer mais com menos inflação o que ajuda a reduzir relação dívida / PIB

> se aumentarmos produtividade, aumentamos a oferta de produtos e serviços com menor usos de recursos, o que também aumenta crescimento sem inflação e com juros menores

> com maior produtividade, seremos mais competitivos lá fora mesmo com dólar baixo, o que reduziria necessidade do BC acumular tantos dólares para evitar apreciação do Real

> se aumentarmos nossa poupança interna não precisaremos que BNDES se endivide para poder emprestar. Teremos poupança para financiar a produção diretamente

Enfim, se encaminharmos as questões fundamentais de nossa economia, não precisamos nos preocupar com problemas fiscais similares ao que ocorreram na Europa.

O endividamento público e privado excessivo na periferia da Europa foi resultado de uma baixíssima produtividade e da queda na poupança interna.

Se eles tivessem aumentado a produtividade e elevado a taxa de poupança e, consequentemente, o investimento autofinanciado, não teriam chegado a esta situação.

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